A hierarquização do espaço na cultura do montanhismo
- Negritude Outdoor
- 18 de jun. de 2024
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Os esportes de aventura geralmente se pautam na liberdade de lançar-se a um lugar “desconhecido” ou “inóspito”, sob os auspícios de um ímpeto indomável. Essas são convicções pautadas em lógicas imperialistas nocivas ao montanhismo atual.
Em muitas das narrativas que constroem a cultura do montanhismo, ambientes são constituídos sob a perspectiva hierarquizante e particular daquele que se entende civilizado. Elementos negativos são centrais. Cidades, aldeias, povoados são concebidos como primitivos, sujos, atrasados, desorganizados e ameaçadores, um desdobramento do povo degenerado e incivilizado que ali habita.
Relega-se aos nativos o ocaso de sucumbir à lógica do dominador que remete todos e tudo a uma condição periférica, de incapacidade e atraso - um não lugar.
As narrativas de montanhismo e aventura atuais quase não se diferenciam das representações do século XIX, oriundas das narrativas de viagem muitas vezes alinhadas a modelos evolucionistas e social-darwinistas originalmente popularizados como elemento de justificativa de práticas imperialistas de dominação.
Por isso, entender as lógicas predominantes nas narrativas de aventura que permeiam a identidade do montanhismo é uma forma de permitir, por intermédio da adoção da lógica do contraponto, ler e interpretar cânones com a finalidade de criar narrativas novas ou alternativas sobre o principal objeto de disputa no imperialismo - a terra.
Novas leituras, novos entendimentos deverão superar questões institucionalizadas ou discursivamente estáveis na cultura do montanhismo que são de ascendência imperialista.
Há, nesse sentido, um movimento para aquele que é subjugado se fortaleça em sua resistência que é afirmar outros tipos de pensamentos e paradigmas que tornam-se e tornar-se-ão institucionalizados e legitimados.
Texto: João Ricardo da Costa Gonçalves @joaoricardocg , graduado em Letras e mestrando em Teoria e História Literária pela UNICAMP / Revisão e edição: Denilson Silva @savagesatori
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