Aquilombando no Parque Nacional de Itatiaia

Sete corpos, sete histórias, sete negritudes, num mesmo ritmo de ancestralidade e pertencimento.

Essa foi a proposta de nossa vivência, com mãos e passos que se somam em caminhada nas montanhas da Mantiqueira, a serra que chora, no Parque Nacional de Itatiaia.

O céu aberto nos dois dias de vivência e andanças com propósito mostraram que definitivamente era tempo de axé, com o clima colaborando com a energia do grupo e as montanhas se abrindo em beleza e força. E quando o tempo abre você já sabe, é a ancestralidade dizendo: “o caminho está pronto pra vocês passarem”.

Essa vivência foi a primeira do ciclo, que batizamos de “Terra, Corpos e Rastros”, que nesse primeiro dia contou com momentos de acolhida, aproximação, escuta, contemplação e conexão na trilha da Pedra Furada. Era importante sentir o chão, o vento, a mata, a rocha e tudo que nos cerca em poder, pra aí sim percebermos que em Itatiaia estamos em casa.

À noite foi o momento de realizarmos uma animada partilha noturna em um espaço muito especial no pé da Pedra do Picu, que foi a nossa casa nesses dois dias de vivência. Um roda de prosa espirituosa, trocas profundas sobre nossa negritude e negritudes (individualidades e coletividade), num movimento que sempre funciona melhor quando é feito com boa comida e bebida, papo de comensalidade, porque quando partilhamos a mesa também aquecemos e alimentamos o nosso espírito coletivo.

No segundo dia era o momento de trilhar o percurso desafiador e belo do Circuito 5 Lagos, repleto de contemplação, suor e conexão, pois entre lagos e montanhas, água e terra, fomos desenhando no território uma cartografia de memória e liberdade, tal como os ventos. À partir do momento em que colocamos a mochila nas costas, cada passo seria um ato de resistência, superação e celebração conjunta, pois juntos sempre vamos mais longe, e era dia de deixar “Rastros Significativos”, de conexão histórica, social e ambiental, enfim, de conexão humana e consciente.

Nosso encerramento coletivo não poderia ser diferente, foi caminhando pela Estrada das Flores, uma das mais altas e bonitas do Brasil, onde cercados pelas montanhas do Planalto de Itatiaia, como se observados, abraçados e protegidos por essas guardiãs de tempo imemoriais, por onde muitos dos nossos parentes e aliados já andaram, sorriram, choraram e viveram, fizemos nossas partilhas e desabafos emocionados, com uma sensação de pertencimento e propósito renovado, em poder, poder negro acima de tudo.

Não há dúvida que certamente voltamos para casa com as mochilas cheias de memórias e os corações cheios de axé.

Nessa vivência aquilombada, afrocentrada e contracolonial, Negritude Outdoor e a Griô Expedições constroem um movimento, não apenas um evento na natureza. Mais que uma trilha, somos um quilombo em movimento, onde cada passo é político, afetivo e ancestral.

A próxima vivência já está sendo sonhada. Acompanhe nosso calendário e caminhe com a gente.